Presença da Mulher na Política de Mauá
- Rita Lopes
- 5 de nov. de 2020
- 4 min de leitura
O espaço político no Brasil, é marcadamente dominado por homens como um resultado de uma sociedade patriarcal que luta pela perpetuação e centralização de poder na figura masculina.
Apesar de avanços e introdução de instrumentos que incentivam a presença da mulher neste espaço, como exemplo as cotas de 30% estabelecida pela redação dada pela Lei 12.034 de 2009, não houve um aumento da representatividade das mulheres eleitas. O que aumentou foi a quantidade de candidatas e em 2020, de forma expressiva, 33,15%, superando as cotas.

Embora esse avanço, para que essas candidaturas tenham chances de se elegerem, os partidos devem direcionar recursos financeiros de mesmo modo, mas não é o que se observa. Os dados disponibilizados pela Plataforma 72Horas, computados e atualizados com base no TSE, destacam que os repasses do fundo eleitoral estão se concentrando em maior proporção para candidaturas de homens e de cor de pele branca: do total de repasse já realizado R$ 1.150.699.958, apenas R$ 325.189.700 foram para candidaturas femininas, 28,2%. Quando recortamos para a cidade de Mauá, o cenário é pior, do total de repasses R$ 1.646.540, apenas R$ 383.699 foram destinados para candidaturas de mulheres, 23,30% do total. Contudo, em 2020, conforme o site Divulga Contas, tivemos 642 candidaturas para a câmara legislativa e dessas 206 são mulheres, ou seja, 32% das candidaturas, o que não se reflete nos repasses.
Dessa forma, observa-se que os repasses não estão sendo representativos o que impede que as candidatas divulguem suas campanhas, o que com certeza impacta nos resultados das eleições e resulta em um apagamento das candidaturas femininas. Esse modelo de distribuição de recursos não contribui para uma democracia de fato representativa, pois, conforme o Censo de 2010, as mulheres são a maioria da população em Mauá e compreendem uma parcela de 51.06% dos mais de 400 mil habitantes, e a representatividade feminina não acompanha essa parcela da população.
Contexto histórico
A luta da mulher na sociedade mauaense, tem raízes históricas e é feita por grandes nomes como Diva Alves, Esmeraldina Francisca, Ana Augusta e Celcina Pereira Fernandes. Contudo, ao analisar o histórico de mulheres na Câmara Municipal e no poder Executivo de Mauá, percebe-se a sub representatividade nos espaços de poder e um processo de apagamento histórico das lutas dessas mulheres.
A primeira vereadora eleita em Mauá, conforme registro histórico no site da Câmara, foi Almerinda Leivinia Araújo Silva, em 1977. Em 1983, foram duas eleitas Lea Aparecida de Oliveira, com 1023 votos, e Celcina Pereira Fernandes, 884 votos. Celcina, é citada pela câmara como uma das figuras femininas de grande reconhecimento, contribuição e apoio dos moradores para o desenvolvimento da cidade.
Além dessas, as outras mulheres que passaram pelo legislativo foram: Diva Alves da Silva (1993), Claudete Porto de Souza Lopes (1997/2001), Terezinha Luiz Ferreira (2001), Eleni de Cássia Rodrigues Rubinelli (2005), Vanessa Doratioto Damo (2005), Cássia Rubinelli (2007), Sandra Regina Vieira (2013) e Wanessa Bomfim (2014). Entretanto, nunca houve uma Mulher presidindo a Câmara Municipal.
Como pode ser observado a representatividade ao longo dos anos no legislativo é baixa, o que também pode ser constatado no executivo que até o momento, nunca houve na posição de chefe do executivo uma mulher eleita, apenas duas como vice-prefeitas, Leni Mariano Walendy e Alaíde Doratioto Damo.
Esse histórico nos fez indagar como esse cenário pode mudar e como podemos contribuir para isso?
Dessa maneira, em agosto de 2020, surge a embaixada Vote Nelas Mauá. Nossa embaixada faz parte do movimento Vote Nelas Nacional, um coletivo suprapartidário, fundado por mulheres em 2018, organizado de forma independente, voluntária e colaborativa que trabalha para contribuir efetivamente para a eleição de mais mulheres e uma distribuição de forma igualitária de recursos, proporcionando assim condições dignas e de igualdades na disputa eleitoral. Nossos pilares buscam o respeito pela essência suprapartidária do coletivo e o perfil das candidatas e embaixadoras deve ser de defesa:
da democracia;
da vida e da segurança da mulher;
da igualdade nos espaços de poder;
de políticas públicas inclusivas; e
de ideais progressistas de respeito e promoção aos Direitos Humanos.
Cada embaixada tem sua autonomia própria, mas em consonância com os pilares do movimento nacional. Nossos propósitos em Mauá, durante as eleições municipais são:
conscientização do voto e difusão da importância de votar em mulheres para o fortalecimento da democracia;
entrevistar, conhecer as candidatas e suas propostas e apresentar os pilares do Vote Nelas Mauá;
dar visibilidade para as candidatas; e
compromisso com a verdade e a pesquisa na produção de conteúdo;
Após as eleições, iremos consolidar nossa estrutura interna e focalizar em cursos de formação de mais embaixadoras, buscando:
acompanhar e fiscalizar o trabalho das candidatas eleitas;
dar continuidade com a Embaixada, as pesquisas e apresentar para a sociedade dados relevantes que possam contribuir para evolução como sociedade.
Acreditamos na mudança por meio da escolha consciente, munida de informação para a construção de uma sociedade mais equidade social e que todas as mulheres se reconheçam como uma força política.
Nossa organização atual:
Rita de Cássia Lopes Moro - fundadora do movimento local e líder do GT Pesquisa;
Cristiane Murakami - líder do GT Comunicação.
Texto co-criado por Rita e Cristiane.
Lugar de Fala da Mulher, por Rita Lopes, é uma coluna do Mobiliza o Rolê!
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