Como está sua situação nesse feriadão?
- Redação
- 1 de nov. de 2021
- 3 min de leitura
Está viajando? Curtindo os prazeres que a vida pode lhe proporcionar? Confortável em sua casa, reunindo familiares e com comida farta na mesa? Preocupado em como pagará a conta de luz, como se alimentará ou se encontrará emprego? Talvez sem acesso ao mínimo para a subsistência como outros milhões de brasileiros?
Aos que aproveitam despreocupados esses dias de folga deve incomodar textos como esse. Cuidado para não tropeçar no morador de rua ou desviar o olhar das misérias impossíveis de serem escondidas nas cidades e dos olhos dos que te servem, resignados. Quão difícil é mudar a vida individual, nossos hábitos e falhas. Quem dirá o mundo? A vida seguirá na quarta-feira, no retorno ao trabalho, podem voltar ao discurso de que estão construindo uma cidade justa, um país melhor, salvando almas para a eternidade ou que cumprem diligentemente suas obrigações trabalhistas. E para sermos honestos, muitos estarão dando seu melhor de fato, até retirando de seus recursos ou tempo livre para ajudarem os outros. Nenhuma dessas reflexões, crenças ou certezas de estar fazendo o certo mudará a vida do povo brasileiro na velocidade que merecem para ter uma existência sem tanta desigualdade social.
Difícil relacionar nosso descanso no feriadão, desejos individuais, direito a privacidade e crenças pessoais com a construção de uma sociedade mais justa. Novos ataques aos políticos surgirão (muitos merecidos de fato, só que com o objetivo de ao fazer todos parecerem iguais nos distanciamos da política). Muitos dos que passam por dificuldades torcerão o nariz ao pensar na Política (disputa pelo poder nas situações cotidianas) e muitos voltarão ao jogo de xadrez pensando em seus ganhos pessoais ou ao grupo que apoiam de momento. Desde a popularização do Príncipe de Maquiavel a política real e seus fins se sobrepõem a compromissos éticos.
Com leve inquietação ouvimos, e ouvimos mais e mais (cansa!), sobre como o governo herdou dívidas, como o anterior destruiu o país ou cidade, como é preciso ter paciência e se privar de ganhos presentes pelo bem futuro (discurso direcionado aos mais pobres, veja se essa lógica se aplica a banqueiros, sonegadores, milionários). Mas é uma inquietação leve, às vezes nem nos incomoda de fato, pois devemos seguir projetos elaborados por nossos superiores (sejam chefias nos departamentos onde trabalhamos, sejam lideranças políticas com as quais nos identificamos).
Quero me posicionar veementemente contra o ataque aos políticos como classe e a Política, eles são fundamentais a democracia. Claro que posições mais definidas possuem colorações mais vibrantes e assentadas. Ao otimista, ou apadrinhado político, os vereadores, deputados, prefeitos, governadores e presidentes, podem se apresentar positivamente como solução de desajustes sociais, ao realista podem ser causadores de nossos problemas passados e respostas que a sociedade deu a esses problemas. Ao pessimista ser a fonte que nos causaram dissabores no passado e continuarão a sugar nosso sangue futuro. Ambos, políticos e Política, fazem partes de nossas vidas e devemos refletir sobre como sobreviver sob seu jugo, sobre como lidar e interferir nela se não aceitamos passivamente as condições que nos impõem.
Um direcionamento ético na Política passa por olhar para o outro e os problemas sociais. Podemos tentar não enlouquecer, fugir da realidade ou, pior, ficarmos indiferentes ao que nos rodeia. Está bem, ninguém é de todo indiferente. O que existe é o desvio do olhar, desvio das prioridades e menosprezo por causas que podem não ser as nossas. No jogo do nós contra eles há pouco espaço para o diálogo, para construção de projetos de Estado ou enfrentamento de estruturas seculares de dominação. O combate ao racismo deve ser central na nossa sociedade construída sobre a escravização de povos negros e indígenas. O patriarcalismo questionado e revertido para que mulheres não sofram tantas situações de violência, sejam livres e ocupem postos de liderança. Aos jovens e os que precisam lutar diariamente por sua orientação sexual é necessário segurança e oportunidade. Além disso, articular essas pautas a economia, a geração de emprego, a impostos justos, a defesa da Saúde e Educação Públicas de qualidade, cultura, lazer e esportes são desafios que podem esperar o feriado passar, para os de barriga cheia, mas não tem um dia em que não pensem quem necessita viver dignamente.
Marcos Ahlers, 01 de novembro de 2021.
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